Quando há uma invasão de um agente externo – um vírus, uma bactéria ou um parasita – o nosso «termóstato» interior, localizado no hipotálamo, reage e procura defender o organismo, fazendo subir a temperatura. A febre é, assim, um meio de defesa natural que permite a libertação de toxinas, através da transpiração, e a diminuição da multiplicação dos vírus, através do calor e da maior mobilidade e acção dos glóbulos brancos. Por isso, a febre deve ser vista como um aliado no combate à doença e não como uma doença. No entanto, um aumento excessivo da temperatura pode ser prejudicial para o organismo, sobretudo se se trata de bebés pequeninos.
Como medir a temperatura? Nos bebés, a febre deve ser medida no rabo ou no ouvido. A temperatura normal é de 38º. Só a partir deste valor deve considerar-se que a criança tem febre.
Se a temperatura do bebé é pouco elevada (38,0 - 38,5º C), é inútil intervir de imediato. O mais sensato é deixar o corpo reagir, acompanhando a sua evolução. Se esta temperatura persistir por mais de 24 horas, mesmo sendo baixa, e sobretudo se o bebé tiver menos de três meses, é aconselhável consultar o médico.
Já quando a febre é superior a 38,5 º C, é necessário baixá-la. Há um maior risco de hipertermia e consequente desidratação. Outro risco de uma febre alta são as convulsões, embora não sejam tão perigosas como parecem.
Se a febre é realmente elevada e vem acompanhada de outros sintomas como gemidos, manchas na pele, vómitos ou diarreia, não hesite em chamar um médico ou em recorrer às urgências o mais depressa possível. No entanto, aqui ficam algumas medidas que poderá tomar de imediato:
Comece por despir o bebé. Deixe-o apenas com uma camisa de algodão de mangas curtas. Verifique a temperatura ambiente. Quer seja no quarto ou noutra divisão da casa, não convém que esteja acima dos 19º C.Dê-lhe um banho morno, no máximo de dez minutos. A água deverá estar dois graus abaixo da temperatura do seu corpo. Isto porque o calor se difunde melhor na água do que no ar.Se o seu bebé não gostar do banho, tem sempre a alternativa de lhe passar um pano húmido pelas articulações. Mas, atenção: o pano deverá ser humedecido com água morna e não com água fria, já que a água fria contrai os vasos sanguíneos, retendo o calor no interior do corpo.Dê-lhe de beber com frequência para evitar os riscos de uma desidratação.O remédio mais eficaz para baixar a febre é o que contém paracetamol. As doses devem ser as prescritas pelo médico e escrupulosamente respeitadas. Se, passadas 24 horas, a febre se mantém, é possível que o médico recomende um medicamento à base de ibuprofeno. Além de ser um antipirético, tem também propriedades anti-inflamatórias.
Quando o termómetro marcar temperaturas superiores a 41º C, o que, felizmente, não acontece com muita frequência, não deverá hesitar um só segundo para levar o seu bebé ao hospital.
Otite
Nos bebés, nem sempre é fácil reconhecer uma otite, já que eles não sabem exprimir a dor e os sintomas podem ser associados a outras causas. No entanto, se o bebé grita em vez de chorar e se leva frequentemente a mão ao ouvido ou esfrega a cara no lençol, irritado, esses são sinais que devem levantar a suspeita de uma otite. Outros sintomas de uma infecção dos ouvidos podem ser vómitos, diarreia, insónia e, por vezes, febre.
A otite é vulgar nos bebés porque a sua Trompa de Eustáquio (ligação entre os ouvidos e a garganta) é mais curta e porque o facto de estarem muito tempo deitados facilita a passagem de vírus e bactérias da garganta e nariz para o ouvido. Daí que se forme uma infecção no ouvido, quase sempre acompanhada por uma infecção da garganta.
A otite é um problema que exige a supervisão de um médico: só ele poderá diagnosticá-la e prescrever o tratamento adequado. Otites mal curadas podem provocar lesões no ouvido e, em situações raras, levar à surdez. Por isso, em caso de otites repetidas, o bebé deverá ser observado por um otorrinolaringologista.
Pieira
A pieira é um som semelhante a um assobio, produzido pelo ar ao passar através dos brônquios quando estes estão inflamados. Sempre que existe inflamação das paredes dos brônquios, a sua espessura aumenta deixando menos espaço para a passagem do ar. Este provoca então um assobio, como o som que é produzido pelo ar ao passar por uma porta entreaberta ou uma fresta na janela. Esta inflamação dos brônquios pode ser um sintoma de bronquiolite ou asma e, por isso, o bebé deverá ser observado pelo médico.
Ranho
O nariz funciona nos seres humanos como o órgão respiratório por excelência, mas também como «filtro» de tudo o que nos entra juntamente com o ar: poeiras, micróbios, fumos, poluição, substâncias alergénias, etc. Para evitar que essas partículas indesejáveis entrem nos brônquios, o nariz «apanha-as». O resultado dessa luta (que também se dá ao nível dos adenóides e em menor grau das amígdalas) é a produção de muco e de secreções, vulgarmente chamadas «ranho». É por isso que as crianças – com a poluição e contacto com outras crianças nas creches e infantários -, andam frequentemente com o nariz entupido, às vezes logo desde o nascimento. É fundamental manter o seu nariz bem permeável, até porque os bebés muito pequenos só sabem respirar pelo nariz (pela boca «engolem» o ar, em vez de o respirar, ficando com soluços e com cólicas). No entanto, há que tomar em atenção o seguinte: a parede do nariz é muito frágil, exactamente por ser fina e muito vascularizada, e qualquer agressão (cotonete, «aspirador» de secreções, limpezas bruscas, etc) pode lesar a parede do nariz, o que pode agravar o problema em vez de o resolver.
A utilização do soro fisiológico ou dos preparados nebulizadores feitos com água do mar é uma boa solução. Para além disso, existem outros preparados («vasoconstrictores» nasais) mas que deverão ser receitados pelo médico e nunca devem ser utilizados mais do que três dias, porque passado este prazo começam a produzir, eles próprios, mais secreções. Muitas vezes, basta fazer umas sessões de atmosfera húmida, caseira, umas três a quatro vezes ao dia, para favorecer a desobstrução nasal.
Quando o «ranho» é amarelado ou verde, poderá ser necessária a administração de um antibiótico, sobretudo se há febre alta durante três ou mais dias, mas isso deverá ficar ao critério do médico assistente.
Tosse
O reflexo da tosse – porque é de um reflexo que se trata – é um mecanismo de defesa do organismo e tem como objectivo expelir, com força acrescida, os micróbios, detritos, poluentes ou outro elementos que se encontram na árvore respiratória e que não deveriam lá estar. É por isso que a tosse deve ser encarada de uma forma positiva, embora existam algumas tosses que resultam de situações «menos boas». Nos bebés, a tosse pode cansar porque, para se tossir, é preciso mobilizar os músculos, o que consome muito oxigénio e energia.
Existem vários tipos de tosse:
- Tosse produtiva: com expectoração (embora a criança não a deite fora, mas a engula), com origem nos brônquios.
- Tosse irritativa: provocada por agressões à árvore respiratória. É uma tosse seca, repetida, e, muitas vezes, quase «ladrada» (tosse de cão).
- Tosse de origem alérgica: parecida com a anterior, mas acompanhada de olhos a lacrimejar, espirros e pieira.
- Tosse nocturna: surge por acessos e corresponde ao deslizar das secreções dos adenóides para os brônquios.
Estas tosses têm origens e razões diferentes e, como tal, exigem atitudes e soluções diferentes, quase sempre sem problemas de maior. Mas a tosse também pode indicar situações graves, por exemplo, quando surge com sangue, quando é acompanhada por dificuldades respiratórias ou aceleração da respiração ou quando é crónica e com outros sintomas, como perda peso. Só o médico poderá avaliar a melhor forma de actuar.
Rubéola
A rubéola deve toda a sua má fama ao facto de ser perigosa para as grávidas, uma vez que pode levar a lesões graves no feto, principalmente oculares, auditivas e cardíacas. Fora este aspecto, é uma doença habitualmente inocente e qualquer criança que tenha rubéola passa por ela sem dificuldade. É uma doença provocada por um vírus que entra no corpo através da respiração e que, uma vez no interior do organismo, se multiplica e passa para o sangue provocando a doença.
O período de incubação é de cerca de 15 dias. O principal sinal da doença é, geralmente, o próprio exantema. Este aparece primeiro na face e estende-se rapidamente pelo pescoço, tronco e membros. Ao fim de 24 horas, todo o corpo está atingido. No dia seguinte, começa a desaparecer e no terceiro dia já nada se detecta. As manchas na pele são de cor rosa, lisas e circulares, sem qualquer aspecto particular, pelo que este exantema é muito difícil de distinguir do de outras doenças virais. Ao mesmo tempo, alguns gânglios aumentam de tamanho e tornam-se palpáveis ou mesmo visíveis, principalmente os do pescoço e da parte de trás da cabeça. Em cerca de um quarto dos casos, não se observa nenhum exantema, mas apenas os gânglios aumentados de volume. Pode não existir febre ou esta aparecer por menos de 24 horas. Raramente surgem complicações e a doença não necessita de qualquer tratamento especial.
Antes de existir a vacina, existiam epidemias com intervalos regulares de cerca de três anos. Actualmente, todas as crianças são vacinadas aos 15 meses e aos 12 anos e a doença tornou-se mais rara.
Escarlatina
A escarlatina é uma doença relativamente frequente. Nesta doença, a criança aparece com manchas no corpo, mas o mais importante é que essas manchas são provocadas por uma bactéria que está a infectar as amígdalas. As manchas são apenas um sinal de aviso. Assim, nesta doença, o mais importante não é o exantema, mas o facto de a ele se associar uma infecção na garganta. Isto quer dizer que a importância de diagnosticar uma escarlatina não tem a ver com qualquer complicação relacionada com as manchas no corpo, mas com a necessidade de tratar uma infecção da garganta que está sempre associada.
A criança pode ser contagiada por outra criança doente, através da respiração, embora em alguns casos possa ser pelas mãos ou objectos contaminados. O contágio é mais importante nos primeiros dias de doença e depois diminui gradualmente.
Raramente existe escarlatina abaixo dos três anos, pelo que os pais devem ter muito cuidado em acreditar em tudo o que ouvem nas escolas, onde à mais pequena mancha surgem alarmes de epidemias de escarlatina, mesmo em crianças de meses.
O período de incubação é de dois a quatro dias. Após este período, a criança fica de súbito doente com febre, vómitos, dores de cabeça e dores de garganta. De vez em quando, podem existir também dores de barriga. Quase em simultâneo com estas queixas surge o exantema. As amígdalas estão inchadas e vermelhas, cobertas com pus. Os gânglios do pescoço estão geralmente aumentados. O exantema é punctiforme e desaparece com a pressão. Surge primeiro no pescoço, axilas e virilhas, mas espalha-se rapidamente. É mais intenso nas pregas (axilas, virilhas) e não atinge muito a face. Ao fim de três a sete dias, o exantema vai-se atenuando e a pele começa a descamar, primeiro na face, depois no tronco e, por fim, nos braços e nas pernas.
A escarlatina pode dar origem a algumas complicações. Não pelo exantema, mas pela infecção na garganta, que se pode espalhar e provocar um abcesso, otite, sinusite ou mesmo meningite. O tratamento faz-se com antibiótico. Este pode ser dado através de uma única injecção ou por um xarope, durante uma semana.
Exantema súbito (febre dos três dias)
O exantema súbito é uma doença muito frequente, mais do que aquelas de que já falámos. É provocada por um vírus que pode afectar crianças entre os seis meses e os dois anos. É muito rara antes dos três meses e depois dos quatro anos. O mais típico é a criança ter febre durante três dias, muitas vezes alta, podendo ultrapassar os 40 graus. Mas na maioria das vezes a criança nem parece muito doente para a febre que tem. A criança continua a brincar e a comer, apesar de ter uma febre alta. Ao fim de três dias a febre desaparece rapidamente e surge o exantema: primeiro no tronco, mas que rapidamente se estende para o pescoço e braços. É raro ir para a face ou para as pernas. Ao fim de dois dias, o exantema desaparece e tudo volta a ser como antes. Os pais devem preocupar-se com o tratamento da febre, nada mais.
Eritema infeccioso (quinta doença)
É uma doença também provocada por um vírus que se transmite de criança para criança através da respiração. É pouco frequente antes dos dois anos de idade. O exantema aparece primeiro na face, que fica muito vermelha, principalmente nas bochechas, de tal forma que parece que a criança foi esbofeteada. A pele está quente e permanece assim durante dois a três dias. Ao fim de 24 horas, surge o exantema nos braços, mãos, coxas e nádegas. O tronco é muitas vezes poupado. Tudo desaparece ao fim de sete dias. O exantema pode reaparecer em determinadas situações, como quando a criança faz esforços físicos ou se estiver mais calor. Também aqui não é necessário qualquer tratamento.
Varicela
Quem não a conhece? Trata-se de uma das infecções virais mais frequentes da infância. É diferente das outras de que temos vindo a falar, porque as lesões da pele são muito diferentes e distinguem-se facilmente. É também provocada por um vírus que passa de criança para criança por contacto directo. É uma das doenças infantis mais contagiosas.
O período de incubação varia entre duas a três semanas. O que é mais característico na varicela é o aparecimento de pequenas manchas rosadas que rapidamente se transformam em vesículas contendo um líquido claro que evoluem depois para crostas. Numa mesma criança, é típico estarem presentes em simultâneo todos os tipos de lesões (manchas, vesículas e crostas) o que é muito típico da varicela. As crostas raramente deixam uma cicatriz, apesar de algumas manchas poderem manter-se por algum tempo, principalmente durante o Verão. As lesões atingem o tronco, a face e a cabeça (é muito típico). São menos importantes as vesículas nos braços ou pernas. Raramente atingem a palma das mãos ou a planta dos pés. Podem também ser encontradas vesículas na boca e garganta, que podem rebentar e provocar dores ao engolir.
A criança apresenta geralmente febre nos primeiros tempos de doença, que pode variar de ligeira a alta, consoante tenha menos ou mais vesículas. É também frequente a criança queixar-se de comichão nas vesículas, que não devem ser tocadas pois não devem rebentar.
A varicela é geralmente uma doença benigna, sem complicações. Nas crianças habitualmente saudáveis, a complicação mais frequente é a infecção de algumas vesículas provocada pelo arranhar das lesões pela criança. O tratamento consiste em baixar a febre usando apenas o paracetamol e diminuir a comichão usando um anti-histamínico. O banho diário deve ser dado de chuveiro com água tépida enxugando o corpo com uma toalha macia para evitar romper as vesículas. As unhas devem ser cortadas rentes e mantidas bem limpinhas para evitar que a comichão possa romper as vesículas. Algumas crianças, como aquelas que têm doenças da pele, podem ter de fazer um tratamento mais intensivo com um antiviral, mas isto é pouco frequente.
Recentemente passou a estar no mercado uma vacina para a varicela que parece ser bastante eficaz. Infelizmente, não sabemos por quanto tempo a vacina produz a sua protecção e pode acontecer que a criança vacinada não tenha varicela em pequena, mas a possa vir a ter quando for adulta, altura em que a varicela é mais perigosa. Este facto tem originado alguma controvérsia e é uma das razões pela qual nem todos os pediatras a recomendam